top of page

Você não é o John Lennon

 

Uma das minhas frases favoritas das músicas do Brendan Benson é quando, em Folk Singer, ele cita uma namorada avisando que “you’re not John Lennon”. Realmente, ele não é. E, então, quem é ele? 

 

  Nascido em Royal Oak, no estado de Michigan, no ano de 1970, Brendan Benson precisou se mudar para Louisiana ainda pequeno porque seu pai trocou de emprego. E não foi só no local onde Brendan iria morar que seu pai influenciou, ele acabou participando também da educação musical do filho, já que colocava para tocar em casa artistas como Beatles, David Bowie e T. Rex, e o pequeno Brendan ouvia tudo sem nem ter ideia de que aquelas canções iriam servir de inspiração para a própria música que ele faria um dia. Mas esse relacionamento fraternal acabou sendo prejudicado quando, por conta do divórcio de seus pais, Brendan foi para Detroit com sua mãe, cidade onde estudou, cresceu e que também inspirou Brendan musicalmente.

  Foi lá, em Detroit, que ele passou por uma ‘fase punk’, logo no início de sua adolescência. Aos 15 anos, fazia shows de punk rock com seu amigo Andy Kemp, com quem formou sua primeira banda. Mas não foi uma só, o resto dos anos adolescentes de Brendan foram marcados pelo nascimento e morte de vários grupos musicais diferentes que ele montava com seus amigos. Smart Bomb, Pony Down e Dog Born foram alguns dos projetos criados e abortados até ele completar 18 anos, quando terminou a escola e foi para a Califórnia numa viagem não muito musical: estava tentando conquistar uma garota. Mas aquela loucura de adolescente apaixonado acabou servindo também para sua carreira, já que ele teve a chance de mostrar suas primeiras gravações demos para as gravadoras locais.

  Ele foi de Los Angeles para Berkeley, e depois voltou para Los Angeles, onde conheceu Jason Falkner, ex-guitarrista do Jellyfish, e outros músicos independentes que gostavam de power-pop tanto quanto ele. Com essas novas conexões, as demos de Brendan começaram a circular pela Califórnia e muitas gravadoras acharam que tinham na mão “o próximo grande astro” da música alternativa, por isso Brendan acabou sendo até motivo de disputa. No final, a Virgin Records ganhou a briga e assinou para lançar seu primeiro álbum.

 

  Brendan voltou para Louisiana, onde havia passado seus primeiros anos de vida, junto com o amigo Falkner, para trabalhar no que viria a ser One Mississippi, seu álbum de estreia. Como seria o caso na maioria de seus trabalhos, ele tocou praticamente todos os instrumentos de todas as canções, usando somente alguma ajuda pontual de Falkner, mas, apesar dos esforços, a Virgin Records não ficou satisfeita com os resultados e pediu que Brendan regravasse todo o álbum em São Francisco com o produtor Ethan Johns. Quando One Mississippi foi lançado, em setembro de 1996, os críticos adoraram, mas as vendas foram fracas.

  Depois do lançamento, Brendan viajou pelos EUA abrindo para bandas como Tom Petty & The Heartbreakers e, apesar dos elogios da crítica, as menos de 10 mil cópias vendidas não impressionaram a Virgin Records, que já não tinha mais certeza se queria continuar trabalhando com ele. Depois de um momento de incerteza, a gravadora resolveu renovar contrato e tentar novamente conseguir sucesso de público com Brendan.

 

  Em 1998, ele voltou para Detroit e, com o dinheiro que ganhou da Virgin, comprou uma casa e a mobiliou com equipamentos de gravação e instrumentos musicais, montando seu próprio estúdio caseiro. No fim das contas, aquele investimento não serviu somente para ele gravar suas músicas (foi ali que trabalhou em seus dois seguintes álbuns), foi também naquele estúdio que Brendan começou a produzir o trabalho de outras bandas e artistas da cidade. Aquela época, aliás, era perfeita para ele se desenvolver como produtor de bandas que estavam iniciando a carreira. A cena musical de Detroit começava a crescer e, entre os artistas que surgiam, estava Jack White, que se tornou amigo de Brendan naquela época e, no futuro, acabaria sendo parceiro dele na banda The Raconteurs.

  Antes mesmo de lançar seu segundo disco, Brendan se desligou da Virgin Records, cansado de ficar na ‘geladeira’ da gravadora, que dava preferência para artistas que estavam tendo vendas maiores, como as Spice Girls. Por um tempo, virou um recluso em seu estúdio caseiro, repensando se talvez não seria uma melhor opção produzir o trabalho de outras pessoas ao invés de fazer sua própria música. Enquanto duvidava de seu futuro como músico, Brendan produziu trabalho de bandas como Mood Elevator, Whirlwind HeatThe Waxwings e Blanche. E ele só começou a retomar a confiança em seu próprio talento como músico ao entrar em contato com essas novas bandas de Detroid, aos poucos, foi gravando novas demos e mandando para gravadoras. Uma dessas foi a StarTime International, de Isaac Green, que ouviu as canções de Brendan em março de 2001, gostou e quis trabalhar com ele.

 

  Em fevereiro de 2002, sob a StarTime International, Brendan lançou Lapalco, seu segundo trabalho. Novamente, o álbum foi quase que inteiramente gravado por Brendan (com a mesma ajuda de Falkner) em seu estúdio em casa. E, mais uma vez, o trabalho foi aclamado pela crítica, sendo até mesmo chamado de ‘obra-prima’ por vários veículos. Depois de seis anos do lançamento de seu primeiro álbum, Brendan finalmente ia sair em turnê com um novo trabalho e, para acompanhá-lo, chamou Chris Plum, Matt Aljian e Zach Shipps.

 Na Europa, Lapalco foi lançado pela V2 Records, levando Brendan para sua primeira turnê fora dos EUA. Atingindo novos mercados e públicos, o número de fãs da música de Brendan foi crescendo e, aproveitando o momento, a StarTime International relançou One Mississippi em 2003. Em junho daquele ano, a gravadora também lançou o EP de cinco músicas Metarie sob o nome Brendan Benson and the Wellfed Boys. No EP, Brendan fez um cover de Let Me Roll It, do Paul McCartney, com a participação de Jack White na guitarra e vocais de apoio. A relação entre os dois se estreitou naquela época, com a banda de Jack, o famoso The White Stripes, gravando um cover de uma canção de Brendan, Good To Me, como B-Side do single mais conhecido do duo, Seven Nation Army, fazendo a música ficar bastante conhecida entre um novo público. Além disso, Brendan também participou de um show do The White Stripes, cantando com a We’re Going To Be Friends com a dupla.

 

  Depois da turnê mundial de Lapalco, Brendan voltou para casa e começou a trabalhar em seu terceiro álbum, dessa vez querendo evitar o intervalo de seis anos que existiu entre suas duas primeiras obras. E as gravações foram mesmo muito rápidas: em seis meses, ele terminou todo o trabalho. Mesmo com o orçamento maior, Brendan continuou tocando ele mesmo todos os instrumentos das músicas (com alguns amigos aparecendo para ajudar em determinados momentos), e a mixagem do disco ficou por conta de Tchad Blake. Em março de 2005, Alternative to Love foi lançado pela V2 dos Estados Unidos.

 Apesar das críticas positivas e de já ser reconhecido entre os fãs de música alternativa, Brendan só obteve sucesso popular em 2006, quando começou uma colaboração com seu amigo de longa data, Jack White, numa parceria que se tornou a banda The Raconterus. Além de Brendan e Jack, Jack Lawrence e Patrick Keeler do Greenhornes também entraram no “supergroup”. Em 2006, a banda lançou o álbum Broken Boy Soldier e, em 2008, o segundo trabalho, Consolers of the Lonely. Os dois álbum fizeram grande sucesso, chegando a entrar na lista dos mais vendidos tanto nos EUA quanto no Reino Unido.

 

  Depois de focar no The Raconteurs por 4 anos, Brendan retornou para a sua carreira solo quando, em 2009, a banda tirou uma pausa por tempo indefinido. O quarto álbum solo de dele saiu em agosto daquele ano e se chamou My Old, Familiar Friend. Entre esse disco e o próximo, Brendan ainda colaborou com diversos artistas, como a cantora country Ashley Monroe e Mark Watrous, das bandas Gosling e Loudermilk (além de músico de apoio do The Raconteurs, Karen Elson, Cory Chisel entre outros).

 

  Em abril de 2012, Benson lançou seu quinto disco: What Kind of World, dessa vez por sua própria gravadora, a Readymade Records, lançada no início daquele ano.

 

  Com cinco discos solo na bagagem e mais dois junto de uma banda de grande sucesso, Brendan caminhou em uma longa estrada desde que começou a escutar música sob influência de seu pai. Hoje, casado e pai de Declan Buck e Adeline Birdy, não é nada menos que um músico estabelecido e de talento reconhecido tanto pela crítica quanto pelo público. As palavras ditas em Folk Singer ainda soam verdadeiras: ele não é John Lennon, mas também não é nada mal ser Brendan Benson.

 

 

 

 

Texto: Gabriela S. Nascimento

Biografia

bottom of page